quarta-feira, 31 de março de 2010

O DRAMA DO FIM DOS TEMPOS [8]

O DRAMA DO FIM DOS TEMPOS

SÉTIMO ARTIGO


Setembro de 1885


HENOC E ELIAS


Os fatos maravilhosos que descrevemos não são suposições aventurosas; são verdades tomadas na Santa Escritura e que seria pelo menos temerário negar.


Antes do fim dos tempos, e durante a perseguição do Anticristo, aparecerão no meio dos homens dois extraordinários personagens, chamados Henoc e Elias.


Quem são estes personagens? Em que condições farão sua entrada providencial no cenário do mundo? É o que vamos examinar à luz das Escrituras e da Tradição.


I


Henoc é um dos descendentes de Set, filho de Adão e raiz da raça dos filhos de Deus. Ele é o chefe da sexta geração a partir do pai do gênero humano. Eis o que o Gênesis nos ensina a seu respeito:


“e Jared viveu 162 anos e gerou Henoc... Ora Henoc viveu 65 anos e gerou Matusalém. E Henoc andou com Deus e depois de ter gerado Matusalém viveu 365 anos. E andou com Deus e desapareceu porque Deus o levou” (Gn 5, 18-25).


Deus o levou com a idade de 365 anos, quer dizer, nessa época de grande longevidade, na idade madura. Não morreu, desapareceu. Foi transportado vivo, para um lugar conhecido apenas por Deus. Aí está o que sabemos de Henoc, patriarca da raça de Set, trisavô de Noé, ancestral do Salvador.


Quanto a Elias, sua história é melhor conhecida. Henoc, anterior ao Dilúvio, nasceu muitos milhares de anos antes de Jesus Cristo. Elias apareceu no reino de Israel, menos de mil anos antes do Salvador; é o grande profeta da nação judaica.


Sua vida não podia ter sido mais dramática (Rs 3; 4). Pode-se dizer que ela é uma profecia em ação do estado da Igreja, no tempo da perseguição do Anticristo. Vivia errante, sempre ameaçado de morte, sempre protegido pela mão de Deus, que ora o esconde no deserto onde corvos o alimentam, ora o apresenta ao orgulhoso Acab, que treme diante dele. Dá-lhe as chaves do céu para desencadear a chuva ou os raios; sobre o monte Horeb favorece-o com uma visão cheia de mistérios. Em resumo, o faz crescer até o porte de Moisés, o Taumaturgo, de modo que com Moisés acompanhe Nosso Senhor sobre o Monte Tabor.


O desaparecimento de Elias corresponde a uma vida de estranha sublimidade. Caminhando com Eliseu, seu discípulo, abre para si uma passagem no Jordão tocando as águas com sua capa. Anuncia que vai ser arrebatado ao céu. De repente, “enquanto caminhavam, conversavam entre si, eis que um carro de fogo e uns cavalos de fogo os separaram um do outro; e Elias subiu ao céu no meio de um turbilhão. E Eliseu o via e clamava: Meu pai, meu pai, carro de Israel e seu condutor! E não o viu mais” (4 Rs 2, 11-12).


E foi assim que Elias, o amigo de Deus, o zelador de sua própria glória, foi arrebatado e transportado, também ele, para uma região misteriosa, onde encontrou seu ancestral, o grande Henoc.


Qual é essa região? Henoc e Elias estão vivos, isto é certo. Onde Deus os esconde? Será em alguma parte inacessível do mundo aqui embaixo? Será em alguma plaga do firmamento? Ninguém pode dizer. Pode-se apenas afirmar que por enquanto eles estão fora das condições humanas; os séculos passam a seus pés sem atingi-los; permanecem na idade madura, sem dúvida, na idade em que foram arrebatados do meio dos homens.


II


Sua reaparição no cenário do mundo não é menos certa do que seu desaparecimento.


Assim fala destes grandes personagens o autor inspirado do Eclesiastes, exprimindo toda a tradição judaica.


“Henoc agradou a Deus e foi transportado ao paraíso para pregar a penitência às nações” (Ecle 44, 15).


“Quem pode se gloriar como tu, ó Elias? Tu foste arrebatado ao céu num redemoinho de fogo, numa carroça tirada por cavalos ardentes; tu, de quem está escrito que no tempo dos julgamentos virás para abrandar a ira do Senhor, para reconciliar o coração dos pais com os filhos e para restabelecer as tribos de Jacó” (Ib, 47).


Estas palavras de um livro canônico nos esclarecem que Henoc e Elias têm uma missão futura a cumprir. Henoc deve pregar a penitência às nações, ou, se preferir em outra tradução, levar as nações à penitência. Elias deve, um dia, restabelecer as tribos de Israel, quer dizer, devolver o lugar de honra a que elas têm direito na Igreja de Deus.


A unanimidade dos doutores compreendem que esta dupla missão se realizará simultaneamente no fim do mundo. Elias, em particular, é considerado o precursor de Jesus Cristo que vem do céu como juiz; este pensamento salta manifestamente dos Evangelhos (Mt 17; Mc 9).


Então, os homens verão um dia, e não sem espanto, Henoc e Elias reaparecerem no meio deles e pregarem penitência com extraordinário brilho. São João os chama as duas testemunhas de Deus, e assim os descreve no seu Apocalipse (11, 3-7).


“Eles profetizarão durante 1.260 dias, revestidos de saco.


“São as duas oliveiras e os dois candelabros postos diante do Senhor da terra.


“Se alguém lhes quiser fazer mal, sairá fogo de suas bocas que devorará os seus inimigos; e se alguém os quiser ofender, é assim que deve morrer.


“Eles têm o poder de fechar o céu para que não chova durante o tempo que durar sua profecia; e têm poder sobre as águas, para as converter em sangue e de ferir a terra com todo o gênero de pragas, todas as vezes que quiserem”.


Quem não reconhece neste retrato o Elias do Antigo Testamento, fechando o céu durante três anos e fazendo descer fogo do céu sobre os soldados que vinham para leva-lo.


Os 1.260 dias marcam o tempo da perseguição final, como já fizemos observar. Assim, o aparecimento das testemunhas de Deus coincidirá com a perseguição do Anticristo.


É preciso reconhecer que o socorro trazido pela Igreja será proporcional ao tamanho do perigo.


As duas testemunhas de Deus, revestidas das insígnias da mais austera penitência, irão por toda parte, e por toda parte serão invulneráveis; uma nuvem, por assim dizer, os cobrirá e lançará fogo contra quem quer que ouse tocá-los. Terão em suas mãos todos os flagelos para desencadeá-los à vontade sobre toda a terra. Pregarão com uma soberana liberdade em presença do próprio Anticristo.


Este tremerá de raiva; e haverá um duelo terrível entre o monstro e os dois missionários de Deus.

domingo, 14 de março de 2010

A EDUCAÇÃO DO SENSO CRÍTICO


Senso critico

Que conhecimento adquirir


Em plena aprendizagem, os educandos precisam de adquirir conhecimentos, têm tanto que aprender! Mas é um erro grave encher-lhes a cabeça de informações fúteis ou superficiais. Há um mínimo indispensável de conhecimentos: os necessários à direcção da vida. Além disto, o espírito enriquece-se com elementos de cultura geral que o põem em contacto com os valores duradouros da humanidade, com elementos profissionais que lhe dão competência para o bom cumprimento dos deveres de estado, com conhecimentos da vida cotidiana do mundo, no que ela tem de valioso para os interesses pessoais e sociais.


Tudo o que desenvolve a inteligência, favorece a seriedade intelectual, serve o cultivo das letras, ciências e artes, deve ser fomentado na educação. Fora disto, é perda de tempo, desperdício de si, quando não resvala por piores caminhos.


"Uma cabeça bem feita"


É lastimável a orientação dos jornais modernos, cheios de informações tão banais, que, quando moralmente inofensivos, servem apenas para afastar o espírito dos temas aproveitáveis.


Ser "um homem bem informado" passou a constituir o elogio, quando o verdadeiro louvor merece o homem bem formado.


... Mais do que armazenar conhecimentos importa formar o senso crítico... O homem sabe, não apenas porque recebeu passivamente os conhecimentos e os pode repetir mecanicamente, mas quando incorporou os conhecimentos, quando os digeriu e assimilou. Para que isto seja judiciosamente feito, há-de passar tudo pelo próprio julgamento, a fim de aceitar o que é bom e rejeitar o que é mau.


Ensinar a pensar


O grande trabalho do educador é este: ensinar a pensar, muito mais do que fornecer conhecimentos; formar a inteligência, muito mais do que informá-la. é despertar a capacidade de compreender. É dar uma certa autonomia mental, na medida em que ela é necessária. é preparar para o discernimento. É encaminhar o educando a usar a sua inteligência; a pensar por si; a saber valer-se da cabeça que Deus lhe deu. É fazer "trabalhar com a cabeça" - como expressivamente diz o povo, na sua linguagem viva e pitoresca.


Isto não se faz de uma vez, precipitada ou independentemente. Faz-se aos poucos. A criança precisa da autoridade dos pais e mestres. Mas deve libertar-se dela, intelectualmente em primeiro lugar. O acerto do educador está em ir processando insensivelmente esta libertação, sem choque, à medida do necessário e do razoável.


Com os adolescentes


A tendência hipercrítica da adolescência encontra natural corretivo nesta bem feita educação intelectual. O adolescente explode em independência, mais por causa da compressão que da justa liberdade. Paulatinamente libertado, proporcionadamente entregue a si mesmo, não sentirá tanto gosto na oposição aos "velhos", na demolição dos ídolos. Ademais, formados desde cedo no gosto da objetividade, não terão tanto apego aos próprios juízos. Apenas saberão, quanto lhes permite a idade, examinar os juízos alheios, para aceitá-los ou reformá-los "dominando-os", incorporando-os a si mesmos.


No terreno moral


Não temamos, com isto, formar racionalistas ou dar aos educandos perigosa independência. Esta capacidade de discernir e julgar é básica na vida moral: os que não a tiverem, considerem-se menores (qualquer que lhes seja a idade). Os que não a formarem, estão precipitando os educadores nas mãos de outrem - pois, incapazes de pensar por si, vão ser dirigidos por terceiros, que tanto os podem levar para o bem como, ainda mais facilmente, para o mal.


Longe de ser um erro (como ainda pensam alguns, amedrontados com a liberdade dos menores), não apenas é bem, mas essencial à virtude, como fundamento de toda a vida moral.


Em face da fé


É também perfeitamente compatível com a fé. Nada temos a temer do senso crítico bem formado. Pelo contrário, o fanatismo é o grande perigo. A credulidade tem sido a brecha dos assaltantes da fé católica da nossa gente. A fé é a aceitação do testemunho alheio: dos homens - fé humana; de Deus - fé sobrenatural.


Mas quando o católico aceita a Palavra de Deus e o ensino infalível da Igreja, não o faz cegamente. Não abdica de seu senso crítico, do direito de julgar. Pelo contrário, é firmado nos motivos de crer que ele faz o seu acto de fé.


Não cremos nos mistérios religiosos por julgá-los à luz da nossa razão; mas cremos porque aceitamos um testemunho que, de antemão, sabemos infalível. Assim compreendido, não há qualquer perigo da independência mental em face das verdades reveladas. Antes ela contribuirá para fazer convicções religiosas, tão importantes, decisivas, na formação cristã.


(O que fazer de seu filho - Pe. Álvaro Negromonte)

PS: Negritos meus; itálicos do autor.


Tirado de: http://a-grande-guerra.blogspot.com/2010/01/educacao-do-senso-critico.html