domingo, 21 de junho de 2009

A RAINHA DO LAR


Por: Daniel Sobrinho


Ela usa seu encanto irresistível para chamar a atenção. Todos precisam girar em torno dela.


A rainha do lar é vaidosa. Gosta de ser o centro das atenções. Todas as conversas precisam girar em torno dela. A sua opinião é lei e ponto final. Falou, está falado! Roma locuta, causa finita! Ninguém questiona os seus pontos de vista. A sua autoridade é tal que nem ao menos permite o diálogo.


Ninguém supera a sua capacidade de informação e persistência. Sabe de tudo. Não há fofoca, escândalo, seqüestro ou tragédia que resista à sua curiosidade e perspicácia. É sempre a mais informada da casa, mesmo que o custo seja a superficialidade.

Exerce seu papel a qualquer hora do dia ou da noite. Ela é admirável. Seu zelo não tem horário. É a companheira das noites insones. E se por acaso, ao raiar do dia, vencido pelo cansaço da noite em claro, você dorme, ela continua ali, firme, sem arredar pé, infatigável no cumprimento do dever. Podia até ser condecorada com a mais alta comenda ao mérito no exercício e cumprimento das suas obrigações.


A rainha é logo percebida pelas visitas. Aliás, já estão tão acostumados à sua presença que nem a cumprimentam. A coroada da casa costuma ser o refúgio das tias, sogras e também das primas que passam temporadas de férias ou descanso no recesso familiar.


Por vezes parece ter sido destronada. Ninguém presta atenção em Sua Majestade. Ledo engano. Ela é capaz de dar a volta por cima e superar num piscar de olhos a aparente indiferença de todos. Tudo é uma questão de tempo e paciência. A conversa familiar pode até ignorá-la durante breves momentos, mas basta um instante de silêncio para que a rainha marque a pauta e o ritmo, erga a própria bandeira e marche na frente dos submissos súditos com graça e elegância incomparáveis.


A sua música é mais doce e cativante do que a flauta de Pan. Por isso o seu trono dificilmente é ameaçado. Ela exerce seu poder com tal naturalidade que todos se curvam diante dela e nem percebem.


Ninguém na casa é capaz de indignar-se como a rainha! Ninguém como ela para esbravejar e trovejar! A sua volubilidade sentimental é quase doentia: é capaz de passar num instante dos risos e gargalhadas às mais amargas lágrimas. Ninguém como ela comove ao explorar a miséria alheia. Como Eros (o deus do amor), também ela parece ser filha de Poros (a riqueza) e Penias (a pobreza).


Se não é o estopim das brigas familiares – o que acontece com certa freqüência –, é a testemunha impassível dos desentendimentos domésticos. Não se importuna com desacordos no seio do lar. Persistente na sua indiferença, vence a todos pelo cansaço.


É resistente como ninguém. As horas ao lado dela voam como segundos, e os anos, lustros e décadas não passam de momentos fugazes. É ela quem domina a cena nos grandes momentos. Emociona e atordoa, assusta e enternece. É difícil, porém, que convide ao pensamento, à reflexão ou ao diálogo.


Essa combinação de atributos que enfeitam a rainha do lar podia levar-nos a pensar em um ser único, de forte personalidade e férreas convicções. Alguém maravilhoso... Não é essa, no entanto, a dura realidade. Fútil e inconstante, as vestes da rainha costumam ser o capricho e a superficialidade.


Você já adivinhou quem é? Psiuuu... se você descobrir, ela pode perder o trono e morrer de vergonha. Contarei o meu segredo a meia voz... Ela não é a filhinha caçula, nem a mãe de família. Não é a cadela fofinha, perfumada e sempre saltitante (mais agora, desde a descoberta de antidepressivos para cachorros).


Quer saber quem é? Abra a janela numa noite quente de verão, para respirar o ar noturno, e olhe para as janelas dos prédios vizinhos... Gire a cabeça ao seu redor e passe os olhos pelas janelas das casas, das vilas, favelas... É ela: a TV.


Fonte: Interprensa

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